Com
as inovações propostas pela internet, a escrita e a leitura têm se tornado
cruciais para garantir a interação entre os jovens. Como lembra Xavier (2005), “a intensa utilização do
computador para a interação entre pessoas à distância tem feito muitos
adolescentes efetivarem práticas de leitura e de escrita diferentes das formas
tradicionais de letramento e alfabetização”. É preciso entender, no entanto,
que essas práticas de leitura e de escrita diferentes da forma tradicional não
acontecem apenas por um desejo de transgredir as normas, é preciso perceber que
o contexto de uso acentua essa necessidade, é nesse ambiente que oralidade e
escrita se aproximam e para poder melhor representar essa forma mais espontânea
na situação comunicativa é necessário utilizar alguns recursos como as
abreviações, os emoticons, os sinais de pontuação, entre outros. Na concepção
de Travaglia (2003, p.18) “um falante com tal capacidade tem uma qualidade de
vida muito maior, pois consegue se colocar como sujeito nas relações sociais [...] e utilizar a língua para a consecução de seus
objetivos”. A compreensão de Travaglia sobre o falante/escritor usuário da
língua em chats desmistifica, portanto, a ideia de um ser de vocabulário
limitado, pois ao utilizar esse ambiente o escrevente se apropria de mais uma
forma de comunicação, de mais recursos representantes da oralidade na escrita e
consegue interagir de forma mais dinâmica nas relações com o outro via
internet.
Longe de ver nessas abreviações um inimigo a ser destruído, Crystal (apud MARCUSCHI, 2005, p.63), chama atenção para o fascínio que essa linguagem produz nas interações de bate papo: primeiro, por que “providenciam um domínio no qual podemos observar a linguagem em seu estado mais primitivo”; segundo, por que “os grupos de bate-papos fornecem evidências da notável versatilidade linguística que há entre as pessoas comuns – especialmente o pessoal jovem”.
Diferentemente do que é
propagado pelo senso comum, muitos estudos têm mostrado que existem “regularidades”
nas abreviações no gênero em questão, e que a escrita em ambiente virtual,
entenda-se bate-papo, não é um campo sem regras, pois como é sabido, é possível
estabelecer comunicação entre pessoas da mesma região como também entre pessoas
de outros países, se cada escrevente usasse uma forma aleatória de escrita seria praticamente impossível haver entendimento
entre os usuários e estabelecer o mínimo de comunicação.
As abreviações: “tc”,
“vc”, “kd”, “tbm”, “blz”, “fds”, “pq”, fora do contexto de uso parecem não
fazer o menor sentido, mas quando utilizadas em situações reais e informais da
língua, demonstram toda a versatilidade
linguística citada por
Crystal, pois qualquer um que tenha o mínimo de letramento digital compreende a
mensagem em: “kd vc?” (cadê você) ou “td blz”? (tudo beleza?) Ou ainda “vm tc”?
(vamos teclar?), termos comumente utilizados em início de conversa nos chats
tão comum entre os adolescentes. Interessante pensar que embora haja, no
ambiente, uma aproximação entre oralidade e escrita, ninguém sai por aí
dizendo: “bom fds pra você”, (bom fim de semana pra você) ou DTA! (Deus te
abençoe!).
Compreender as formas de escrita criadas pelos
jovens no ambiente virtual não é tarefa fácil, nem acreditamos ser uma tarefa
possível, visto que, como vimos, os recursos usados por eles como abreviações,
repetição de letras, uso de emoticons, pontuação livre, entre outros,
são recursos marcados pela criatividade, pelo modismo e pela efemeridade.
No entanto, acreditamos que analisar o internetês como uma variedade da
língua que se realiza dentro de contextos específicos com propósitos
comunicativos bem definidos é condição necessária para que possamos utilizá-lo
como ferramenta de ensino da língua Portuguesa, formando sujeitos conscientes
da importância que tem a escrita na sociedade letrada em que vivemos e,
principalmente, capazes de reconhecer que se faz necessário ter uma competência
comunicativa cada vez mais plural para que se possa participar das práticas de
escrita sejam elas virtuais ou não.
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