terça-feira, 8 de julho de 2014

O internetês e o ensino da língua materna


Com as inovações propostas pela internet, a escrita e a leitura têm se tornado cruciais para garantir a interação entre os jovens. Como lembra Xavier (2005), “a intensa utilização do computador para a interação entre pessoas à distância tem feito muitos adolescentes efetivarem práticas de leitura e de escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização”. É preciso entender, no entanto, que essas práticas de leitura e de escrita diferentes da forma tradicional não acontecem apenas por um desejo de transgredir as normas, é preciso perceber que o contexto de uso acentua essa necessidade, é nesse ambiente que oralidade e escrita se aproximam e para poder melhor representar essa forma mais espontânea na situação comunicativa é necessário utilizar alguns recursos como as abreviações, os emoticons, os sinais de pontuação, entre outros. Na concepção de Travaglia (2003, p.18) “um falante com tal capacidade tem uma qualidade de vida muito maior, pois consegue se colocar como sujeito nas relações sociais [...] e utilizar a língua para a consecução de seus objetivos”. A compreensão de Travaglia sobre o falante/escritor usuário da língua em chats desmistifica, portanto, a ideia de um ser de vocabulário limitado, pois ao utilizar esse ambiente o escrevente se apropria de mais uma forma de comunicação, de mais recursos representantes da oralidade na escrita e consegue interagir de forma mais dinâmica nas relações com o outro via internet.
 



Longe de ver nessas abreviações um inimigo a ser destruído, Crystal (apud MARCUSCHI, 2005, p.63), chama atenção para o fascínio que essa linguagem produz nas interações de bate papo: primeiro, por que “providenciam um domínio no qual podemos observar a linguagem em seu estado mais primitivo”; segundo, por que os grupos de bate-papos fornecem evidências da notável versatilidade linguística que há entre as pessoas comuns – especialmente o pessoal jovem”. Diferentemente do que é propagado pelo senso comum, muitos estudos têm mostrado que existem “regularidades” nas abreviações no gênero em questão, e que a escrita em ambiente virtual, entenda-se bate-papo, não é um campo sem regras, pois como é sabido, é possível estabelecer comunicação entre pessoas da mesma região como também entre pessoas de outros países, se cada escrevente usasse uma forma aleatória de escrita  seria praticamente impossível haver entendimento entre os usuários e estabelecer o mínimo de comunicação.
 
As abreviações: “tc”, “vc”, “kd”, “tbm”, “blz”, “fds”, “pq”, fora do contexto de uso parecem não fazer o menor sentido, mas quando utilizadas em situações reais e informais da língua,  demonstram toda a versatilidade linguística citada por Crystal, pois qualquer um que tenha o mínimo de letramento digital compreende a mensagem em: “kd vc?” (cadê você) ou “td blz”? (tudo beleza?) Ou ainda “vm tc”? (vamos teclar?), termos comumente utilizados em início de conversa nos chats tão comum  entre os adolescentes.  Interessante pensar que embora haja, no ambiente, uma aproximação entre oralidade e escrita, ninguém sai por aí dizendo: “bom fds pra você”, (bom fim de semana pra você) ou DTA! (Deus te abençoe!).
 
Compreender as formas de escrita criadas pelos jovens no ambiente virtual não é tarefa fácil, nem acreditamos ser uma tarefa possível, visto que, como vimos, os recursos usados por eles como abreviações, repetição de letras, uso de emoticons, pontuação livre, entre outros, são recursos marcados pela criatividade, pelo modismo e pela efemeridade.
 
No entanto, acreditamos que analisar o internetês como uma variedade da língua que se realiza dentro de contextos específicos com propósitos comunicativos bem definidos é condição necessária para que possamos utilizá-lo como ferramenta de ensino da língua Portuguesa, formando sujeitos conscientes da importância que tem a escrita na sociedade letrada em que vivemos e, principalmente, capazes de reconhecer que se faz necessário ter uma competência comunicativa cada vez mais plural para que se possa participar das práticas de escrita sejam elas virtuais ou não.
 
 
 











 

 
 
 
 
 

 

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