terça-feira, 15 de julho de 2014

A leitura em ambiente virtual: um novo olhar para o hipertexto


A leitura em ambiente virtual é marcada pela não linearidade e pluritextualidade ou multissemiose, as quais caracterizam o hipertexto e tornam a leitura mais dinâmica e envolvente (XAVIER, 2010). No que se refere à não linearidade da leitura, percebemos que ela não é marca exclusiva da leitura em ambientes virtuais
[...] haja vista que as notas de rodapé, índices remissivos, sumários e divisão em capítulos encontrados nos livros tradicionais também oferecem ao leitor caminhos alternativos a serem trilhados [...] No entanto, esta é uma forma de recepção do texto pelo leitor e não uma regra constitutiva de sua confecção como no hipertexto. A inovação trazida pelo hipertexto está em transformar a deslinearização, a ausência de um foco dominante de leitura, em princípio básico de sua construção.  (XAVIER apud MARCUSCHI & XAVIER, 2010, p 213)
Essas peculiaridades da leitura em ambiente virtual incitam novas questões que passam a ganhar visibilidade nos estudos sobre a leitura. O que fazer diante do oceano de links que são dispostos na rede? Como navegar nesses links sem perder o foco da leitura? Onde fica a questão da autoria nessa rede de ideias conectadas por meios dos links?

Essas questões levam-nos a pensar sobre o papel do leitor-navegador diante dos textos virtuais, assim como na relevância dos links para a construção do sentido na leitura feita virtualmente. A respeito dessa instabilidade causada pela leitura hipertextual Cavalcante afirma que
{...] o que temos de fato é o delineamento de um espaço, demarcado por alguns pontos de referência (links) que remetem a outros espaços (nós), como o mapa de uma localização qualquer. Logo, não há ‘solda’ hipertextual na perspectiva do autor, apenas a disponibilizamos de um certo recorte demarcador de possibilidade”. (apud MARCUSCHI & XAVIER e, 2012, p. 204)

Com isso, percebemos que o papel de construção dos sentidos nessa teia hipertextual é em grande parte do leitor, visto que o autor apenas demarca possibilidades por meio dos links que podem levar o leitor a outras páginas, a outros textos. Isso leva-nos a repensar o conceito de autoria, visto que de acordo do Possenti

O hipertexto acabaria atribuindo ao leitor um papel similar ao do autor, na medida em que caberia em grande parte ao leitor organizar a sequência do que vai ler (clicando ou não nas palavras-chave, por exemplo, ou seja, indo ou não a um outro espaço, e tendo ido, decidir se volta ou não ao texto como o autor o teria disposto ou imaginado. (apud CAVALCANTE, 2012, P. 204, 205)

A respeito do papel ativo do leitor na construção dos sentidos do texto, a literatura é vasta e cada vez mais consensual, no entanto essa autonomia do leitor diante das possibilidades trazidas pela leitura por meio dos links traz à tona a questão da própria autoria, pois o que temos, agora, é uma vastidão de informações conectadas e que dar ao leitor a possibilidade de construir seu próprio texto sem, necessariamente, plagiar, visto que temos acesso a várias fontes de informações interconectadas pelos links. No entanto é válido salientar que nem sempre os links podem contribuir para o que buscamos em nossa leitura, daí a relevância de o leitor-navegador além de dominar a tecnologia para navegar com autonomia e segurança; ser criterioso e reconhecer a (ir)relevância das palavras-chave postas na hipertexto para que ele possa decidir o momento apropriado realizar a linkagem.

 

 

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