A leitura em ambiente virtual é marcada pela não linearidade
e pluritextualidade ou multissemiose, as quais caracterizam o hipertexto e
tornam a leitura mais dinâmica e envolvente (XAVIER, 2010). No que se refere à não
linearidade da leitura, percebemos que ela não é marca exclusiva da leitura em
ambientes virtuais
[...] haja vista que as notas de rodapé,
índices remissivos, sumários e divisão em capítulos encontrados nos livros
tradicionais também oferecem ao leitor caminhos alternativos a serem trilhados
[...] No entanto, esta é uma forma de recepção
do texto pelo leitor e não uma regra constitutiva de sua confecção como no
hipertexto. A inovação trazida pelo
hipertexto está em transformar a deslinearização, a ausência de um foco
dominante de leitura, em princípio básico de sua construção. (XAVIER apud MARCUSCHI & XAVIER, 2010, p
213)
Essas peculiaridades da leitura em ambiente virtual incitam
novas questões que passam a ganhar visibilidade nos estudos sobre a leitura. O
que fazer diante do oceano de links que
são dispostos na rede? Como navegar nesses links
sem perder o foco da leitura? Onde fica a questão da autoria nessa rede de
ideias conectadas por meios dos links?
Essas
questões levam-nos a pensar sobre o papel do leitor-navegador diante dos textos
virtuais, assim como na relevância dos links
para a construção do sentido na leitura feita virtualmente. A respeito
dessa instabilidade causada pela leitura hipertextual Cavalcante afirma que
{...] o que temos de fato é o delineamento de um
espaço, demarcado por alguns pontos de referência (links) que remetem a outros espaços (nós), como o mapa de uma localização qualquer. Logo, não há ‘solda’
hipertextual na perspectiva do autor, apenas a disponibilizamos de um certo
recorte demarcador de possibilidade”. (apud MARCUSCHI & XAVIER e, 2012, p.
204)
Com
isso, percebemos que o papel de construção dos sentidos nessa teia hipertextual
é em grande parte do leitor, visto que o autor apenas demarca possibilidades
por meio dos links que podem levar o
leitor a outras páginas, a outros textos. Isso leva-nos a repensar o conceito
de autoria, visto que de acordo do Possenti
O hipertexto acabaria atribuindo ao leitor um papel
similar ao do autor, na medida em que caberia em grande parte ao leitor
organizar a sequência do que vai ler (clicando ou não nas palavras-chave, por
exemplo, ou seja, indo ou não a um outro espaço, e tendo ido, decidir se volta
ou não ao texto como o autor o teria disposto ou imaginado. (apud CAVALCANTE,
2012, P. 204, 205)
A
respeito do papel ativo do leitor na construção dos sentidos do texto, a
literatura é vasta e cada vez mais consensual, no entanto essa autonomia do
leitor diante das possibilidades trazidas pela leitura por meio dos links traz à tona a questão da própria
autoria, pois o que temos, agora, é uma vastidão de informações conectadas e
que dar ao leitor a possibilidade de construir seu próprio texto sem,
necessariamente, plagiar, visto que temos acesso a várias fontes de informações
interconectadas pelos links. No
entanto é válido salientar que nem sempre os links podem contribuir para o que buscamos em nossa leitura, daí a
relevância de o leitor-navegador além de dominar a tecnologia para navegar com
autonomia e segurança; ser criterioso e reconhecer a (ir)relevância das
palavras-chave postas na hipertexto para que ele possa decidir o momento
apropriado realizar a linkagem.
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